Este, é um texto real que remete a história do “João” (nome fictício), onde ele me explica e permite que partilhe com todos vós o que sente uma pessoa depressiva. Certamente muitos de vós passa diariamente por esta realidade. Muitos referem-se a um corredor, outros a buracos e outro ainda a poços sem fundo. Mas a realidade é que não importa muito qual o espaço a que cada um se refere mas sim à dor que que cada um sente.
Importa mais ainda que a consigam partilhar com quem vos ama, sem receios de forma a poderem ser ajudados. Eu sei e que existe muita descriminação, muito preconceito. As pessoas pensam que sois “maluquinhos” e que não tem nada para fazer e que então inventam.
Tantos mas tantos ,testemunhos tem-me chegado às mãos como uma partilha que não lhes é possível partilhar com mais ninguém.
Quando eu questiono se já pediram ajuda a alguém, a resposta é unânime.
- Não me querem ouvir.
- Não acreditam em mim.
- Dizem que eu preciso é de namorado ou namorada.
- Dizem que eu preciso é ocupar a minha mente com a escola ou com o trabalho.
- Dizem que assunto de Depressão é proibido lá em casa.
- Não tenho amigos.
- Não tenho ninguém, todos se afastaram.
- Sofri de bulling a vida toda e não consigo confiar em ninguém.
- Os médicos não me conseguem ajudar.
- O médico deixou de me acompanhar.
- Não quero depender de medicação.
- Tenho medo dos meus pais.
- Tenho medo que o meu marido ou esposa me deixe.
- Não quero parecer fraco, fraca.
- Só não me matei ainda porque tenho uma filha ou um filho.
- Só não me matei ainda porque não quer fazer sofrer a minha mãe.
- Vou aguentando até um dia.
- Ninguém me consegue ajudar.
- Morri na mente e agora só resta o corpo.
Ao longo desta semana, após a minha ida ao programa do Goucha na TVi, centenas de mensagens, pedidos de ajuda chegaram até mim. Tenho tentado responder a todos e confesso que me faltam poucas mensagens para responder.
Respeito em absoluto o que me partilham e tenho a dizer-vos que sois todos uns guerreiros perante toda a escuridão que vos assola. Sem vos conhecer pessoalmente deixem-me que vos diga que me orgulho imenso de todos vós. É verdade!
Grata pela vossa confiança, pelo vosso carinho, pelo vosso testemunho.
Existem muitos Pedros por aí.
Leiam por favor este testemunho de alguém que não desistiu de tentar e no final conseguiu acalmar a mente.
João (nome fictício)
«Posso descrever aquele sonho de estar num corredor longo e com muitas portas onde tentamos correr e não alcançámos o fim deste corredor, acho que é um sonho comum na maior parte das pessoas. Para quem sofre depressão este sonho começa a tornar-se tão real mas também muito distorcido, sendo o corredor o nosso futuro e cada porta os nossos sonhos. Quando todas as frustrações da nossa vida enquanto jovens começam a acontecer, e não conseguimos compensar cada desilusão começamos a entrar na sala de espelhos onde partimos cada espelho que corresponde uma desilusão até não sobrar um único espelho e restamos só nós e começámos o Ódio físico do nosso “Eu”. Após isto acontecer entramos no tal corredor que na minha opinião cada porta é parte de nós e quando achamos que algo na vida nos corre mal será uma porta da vida a se fechar, mas na verdade somos nós a fechar uma parte de nós mesmos. E isso repetidamente onde todas as portas se fecham, o corredor deixa de ser inatingível e passa a ser um corredor que acaba ao fundo com uma sombra tão escura que achamos ser o precipício. A barreira entre a sombra e nós, existe a luz, e estando todas as portas fechadas só nos resta aquela pequena luz. Esta pequena claridade da luz é o que resta muito pouco de nós que infelizmente se apaga com mais uma desilusão. Ai entramos em pleno “BREU” Que já dificilmente poderemos fazer alguma coisa por nós e dificilmente outras pessoas nos conseguem ajudar, só com muita vontade ou algo na vida aconteça nos faz brilhar e nos salvar daquela escuridão imensa. Mas sim é possível, por isso estou cá hoje, com quase 50 anos. Peço desculpa escrever tudo isto, mas é difícil explicar a quem quer que seja até mesmo a quem muito amamos todo este processo na nossa mente daí que é mais fácil fazer-mo-nos passar por excelentes atores e disfarça-mos toda esta dor, toda essa claustrofobia, todo esse ódio por nós, e o amor à vida e de viver. Passamos a amar a escuridão a “Morte” porque no escuro não nos vemos, não nos sentimos, não existimos, não sofremos, e o mais importante não fazemos ninguém que amamos sofrer mais, porque somos um fardo pesado de mais.»
Obrigada “João”pela partilha e confiança.
Com um enorme respeito por todos vós e em especial por si.
A mãe do meu filho tem asas
